Especialista prevê transformações na indústria até 2025 com a chegada do 5G ao Brasil

Eduardo Grizendi é engenheiro eletrônico e já atuou no Instituto Nacional de Telecomunicações

A chegada do 5G ao Brasil deverá impulsionar o desenvolvimento do País em várias áreas, proporcionado pela conectividade em alta velocidade, que deverá tornar possível casas inteligentes e IoT de forma mais capilarizada. Essas transformações deverão ser sentidas também na indústria brasileira, que vem passando por um processo acelerado de automação.

Eduardo Grizendi. Foto: Assessoria

Para o diretor de engenharia e operações da Rede Nacional de Pesquisa, Eduardo Grizendi, o 5G será fundamental para o desenvolvimento industrial. “O 5G, devido à sua alta velocidade e baixa latência, comparado ao 4G, permitirá a troca de maior volume de informações, e de forma muito mais rápida e confiável, no ambiente industrial. Permitirá que pessoas e máquinas conversem entre si, viabilizando o IIoT (Internet Industrial das Coisas) e acelerando a automação e robótica, o uso de aplicações como realidade virtual, o armazenamento em nuvem e a computação em borda na Indústria”, adiantou.

5G deve acelerar a transformação digital

Eduardo acredita na possibilidade de universalização dos dispositivos de IoT e hiperautomação na indústria brasileira e em outros setores da economia, inclusive no metaverso e arrisca o palpite de que em 2025 já será possível ver algumas mudanças significativas no quadro atual. “Este cenário de uso de dispositivos de IoT e de automação já se iniciou na indústria brasileira e vai se intensificar com a chegada do 5G. Penso que já em 2025, veremos mudanças significativas, pois o 5G vai acelerá-las”, pontuou.

Grizendi ainda prevê uma oportunidade de crescimento industrial no país por conta do sinal amplo via ondas de rádio a ser oferecido pelo 5G e também nas demandas por serviços técnicos para configuração de equipamentos como white boxes e compartilhamento das infraestruturas de transmissão, gerando várias frentes de ofertas de serviços em soluções ópticas.

Em sua opinião, a indústria brasileira pode se tornar uma fornecedora de softwares, periféricos e aparelhos digitais para abastecer o mercado que se abre com o 5G no mundo. Ele cita o exemplo de empresas brasileiras como Intelbras, Positivo e Multilaser. “É possível competir internacionalmente no mercado de equipamentos de TI. A indústria brasileira de software também se fortaleceu nos últimos anos, contando com médias e grandes empresas, e startups inovadoras. O 5G traz a oportunidade para novos entrantes, tanto para software quanto para hardware, incluindo periféricos”, apontou.

Porém, Eduardo reconhece que ainda é necessário vencer o desafio da inclusão digital para que essas tecnologias realmente cheguem à indústria e aos lares brasileiros e ressalta que é preciso políticas públicas que a promovam. “A chegada do 5G vai intensificar a oferta de banda larga, com características diferentes, dependendo da faixa de frequências. Juntando principalmente estas duas tecnologias – ópticas e 5G, devemos esperar por um grande avanço da inclusão digital. IoT vem atrás, empurrando este avanço”, prevê.

Infraestrutura óptica

A capilaridade da infraestrutura óptica, conforme Eduardo, deverá ser muito mais potencializada com a chegada do 5G, o que deverá impulsionar ainda mais e acelerar as mudanças nos próximos cinco anos.

O engenheiro observa que alguns desafios ainda precisam ser contornados, como o regulamento do compartilhamento de postes, que está em discussão atualmente e tem sido um ponto de conflito entre as distribuidoras de energia e as teles. A questão, conforme Eduardo, é que as redes ópticas metropolitanas são basicamente aéreas, dependendo dos postes para se capilarizar.

“Não temos, no país, um compromisso de enterrar nossas infraestruturas ópticas metropolitanas, como não temos também de enterrar nossas infraestruturas de energia. É preciso avançar com o aterramento destas infraestruturas, começando pelas áreas mais caóticas de nossas cidades. Poucas cidades têm enterrado estas infraestruturas, mas começa a existir um movimento neste sentido, expandindo para outras áreas de uma cidade, e demais cidades aderindo”, sugeriu.

Transição do 4G para o 5G

Com o objetivo de acelerar essas mudanças, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações firmou um acordo de cooperação técnica com a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), que visa a pesquisa e experimentação para a implantação de uma rede segura, e com alta disponibilidade e desempenho para uso na educação, pesquisa e inovação, para contribuir para o desenvolvimento da tecnologia no país.

“A Rede Nacional de Ensino e Pesquisa é a rede acadêmica brasileira. Nossos serviços apoiam a educação e a pesquisa no país. Praticamente todas as universidades e institutos de pesquisa públicos estão conectados à nossa rede. Mas também conectamos os privados. Estabelecemos, na RNP, um objetivo estratégico de prover uma ciberinfraestrutura, segura, de alto desempenho para comunidades de educação, pesquisa e inovação. Acreditamos que nossa ciberinfraestrutura deve considerar o uso de infraestrutura óptica, mas, também, de serviço de dados móveis, principalmente e intensamente utilizando a tecnologia 5G”, ressaltou.

O especialista explica que a cooperação técnica entre a RNP e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações contribuirá para desenvolver redes abertas, por de ondas de rádio, que transmitirão o sinal 5G nas frequências anteriormente utilizadas pela TV analógica. Isso possibilitará acesso amplo e poderá abrir espaço para produção de novos softwares e aparelhos digitais que atendam à demanda pela nova conectividade, trazendo mais democratização ao acesso à tecnologia.

Para que essa transição ocorra, a Anatel publicou portaria em dezembro de 2021, instalando o Grupo de Acompanhamento da Implantação das Soluções para os Problemas de Interferência (GAISPI). Esse grupo foi subdividido em subgrupos de trabalho, entre eles, um para acompanhamento da migração dos canais (GT-Migração) e outro para desocupação e mitigação de interferência (GT-Desocupação). O GAISPI também disciplinará e fiscalizará a EAF (Entidade Administradora da Faixa de 3,5 GHz), a ser criada pelas operadoras para promover a desocupação da faixa.