Por que os notebooks subiram de preço?

Durante a pandemia, muitos brasileiros tiveram que se adaptar ao home office, que transformou a rotina das casas e criou uma necessidade de compra de tudo o que se relaciona com o trabalho em casa, inclusive notebooks. O aumento da demanda de compra, por si só, já seria suficiente para provocar oscilações nos preços desses e de outros aparelhos eletrônicos.

Porém, outros fatores também precisam ser levados em consideração na hora de pensar a respeito, como a redução no ritmo de produção de algumas indústrias em decorrência da própria pandemia, bem como a escassez de componentes eletrônicos que vive o mundo atualmente.

Em uma economia globalizada como é a atual, tudo o que acontece em outros países também afeta o Brasil. E, desde o início da pandemia, a China assumiu um protagonismo mundial, tanto no que se refere a ter sido o primeiro foco da pandemia, quanto por ter dado o pontapé inicial na produção de vacinas e, também, por ser o principal parceiro comercial de diversos países, incluindo o Brasil.

E esse protagonismo também implica ser o maior produtor de componentes eletrônicos do mundo. Ou seja, se o seu notebook não foi produzido completamente na China, certamente boa parte dos componentes que fazem parte dele foi.

Tudo vem da China

Ok, nem tudo já vem totalmente montado da China, mas certamente alguma parte ou peça veio de lá. E quando a economia chinesa é afetada, todo o mundo também sofre com as consequências. Isso se aplica também aos fretes marítimos.

No primeiro ano da pandemia, houve uma desaceleração nas rotas comerciais por fatores relacionados à logística de envio de mercadorias, ora por demanda menor, ora por necessidade de quarentenas constantes. Isso resultou em menos navios circulando nas rotas comerciais chinesas com outros países.

Com a nova aceleração da economia no início desse ano, mercadorias e peças chinesas voltaram a ser enviadas a outros países do mundo, o que provocou maior demanda do que a oferta de contêineres para seu transporte. E com isso um boom nos preços.

Frete quintuplicou

O frete marítimo China-Brasil chegou a aumentar cinco vezes mais em janeiro desse ano, em relação ao período antes da pandemia. Além disso, de janeiro a junho o transporte da maioria dos contêineres em praticamente todos os portos chineses praticamente dobrou de valor. Os dados são da LogComex e apontam o resultado de uma demanda reprimida de mercadorias que precisam ser escoadas para vários países, provocando uma disputa maior por contêineres para esse transporte.

E isso também tem a ver com o fato de que as pessoas passaram a fazer mais compras digitais, o que afeta o processo logístico. Além disso, as rotas marítimas do Brasil para a China são muito maiores do que as de outros países, o que também afeta o preço das mercadorias.

De acordo com dados da LogComex, a China foi responsável por 33,6% de todas as exportações brasileiras em 2020 e 21,8% de todas as importações. Porém, a economia mundial continua tendo problemas, ora relacionados a emergências de saúde pública, como a nova variante Delta do coronavírus, ora relacionados às intempéries climáticas que também afetam as operações logísticas e, consequentemente, os preços dos produtos.

Pandemia e crise climática

Na virada entre os meses de junho e julho, conforme dados compilados pela Reuters, houve oscilação no crescimento das importações e exportações da China, provocada por surtos da nova variante da COVID e também por variações climáticas que afetaram o transporte aéreo, causando um aumento de demanda pelo transporte via marítima.

As exportações chinesas cresceram apenas 19,3% em julho, na comparação com o ano anterior (de pandemia), menos do que a expectativa de analistas de aumento de 20,8%. Nas importações, julho teve alta de 28,1% comparado ao mesmo período do ano anterior, também abaixo do percentual esperado, de 33%.

Todos esses fatores influenciam no preço do que chega à casa do consumidor e, como a China é o maior produtor de componentes e produtos eletrônicos do mundo, então, a pergunta para por que o notebook subiu de preço tem uma resposta complexa, mas cuja resposta está na globalização da economia.