Métodos de combate à dengue incluem avanços em biotecnologia com mosquitos geneticamente modificados

Em tempos de casos crescentes de dengue em todo o Brasil, com mais de 3 mil óbitos causados pela doença e mais de 4,2 milhões de casos prováveis atualmente, conforme o Painel de Arboviroses do Ministério da Saúde, todos os métodos possíveis vêm sendo utilizados no combate ao mosquito transmissor, incluindo biotecnologia. São Paulo é o Estado com maior número de mortes, contando 862 óbitos pela doença, seguido por Minas Gerais, Paraná e Distrito Federal. Com as recentes enchentes no Rio Grande do Sul, especialistas demonstram preocupação com o aumento no número de casos de dengue.

A crise climática vem sendo um fator importante para a disseminação exponencial dos vetores transmissores da dengue, encontrada atualmente mesmo em países da Europa, como França e Espanha. Se no Brasil a infestação é predominante por Aedes aegypti, na Europa, em 13 países, já foi identificado o Aedes albopictus, também transmissor da dengue, bem como de outras arboviroses conhecidas como zika e chikungunya.

Para o combate ao mosquito, é preciso estar vigilante em casa para o acúmulo de água em ambientes, o que torna propício os criadouros. Além disso, a sociedade vem se mobilizando em diferentes esferas para o combate efetivo à dengue. O Ministério da Saúde realizou, este mês, a Oficina Internacional sobre arboviroses, na qual discutiu uma estratégia de enfrentamento ao mosquito para o restante do ano de 2024 e início do ano de 2025. Na esfera pública e privada, iniciativas vêm sendo realizadas para tornar a escalada da doença mais controlada.

Biotecnologia contra a dengue

Um desses esforços de longa data é o desenvolvimento de biotecnologia para atuar contra o mosquito, capaz de se adaptar aos mais diversos hábitats. Soluções para atuar no controle biológico podem minimizar a população dos vetores de transmissão, Aedes aegypti e Aedes albopictos, responsáveis por transmitir mais de 100 arboviroses, incluindo, além da dengue, a febre amarela, a zika e a chikungunya.

Para realizar o controle biológico do mosquito, tecnologias como o Aedes do Bem, desenvolvidas pela Oxitec, se tornaram aliadas em vários locais do País. A solução consiste em insetos geneticamente modificados que impedem que os descendentes fêmeas da espécie sobrevivam até a fase de reprodução, eliminando assim a população do mosquito a longo prazo naquela região. Esses mosquitos contam com um gene autolimitante que contribui para reduzir gradualmente a população da espécie.

Os espécimes geneticamente modificados também são fluorescentes sob uma luz específica, o que torna mais fácil rastreá-los para entender a efetividade do método naquela área e gerar dados estatísticos para o futuro. No projeto-piloto no Brasil, por exemplo, na cidade de Indaiatuba, interior de São Paulo, houve 96% de supressão da população do Aedes aegypti.

Natália Ferreira, CEO da Oxitec. Foto: Divulgação

A solução está disponível para empresas, mas também para pessoas físicas, por meio de e-commerce e em lojas de Campinas (SP) e Uberlândia (MG). Companhias como SOCICAM, Bombril, AGCO, BRF Pet, CTA Continental, Plasca e Kraft Heinz utilizam o método em suas plantas empresariais.

Natália Ferreira, CEO da Oxitec, explica que utilizar o mosquito com gene autolimitante não substitui outros métodos de prevenção como a aplicação da vacina contra a dengue, mas que minimiza a utilização de métodos como o fumacê. “A nossa solução não atua no vírus das doenças, mas sim no vetor transmissor. Nosso objetivo é fazer o controle biológico da espécie, ajudando na diminuição da população de mosquitos Aedes aegypti, atuando na fase larval dessa espécie. A solução é indicada para uso combinado com outros métodos de combate, sendo uma iniciativa de inovação, sem uso de componentes químicos tóxicos para a população”, ressaltou a porta-voz.